Legado Literário de Xiririca á Eldorado
Começamos a história do legado literário de Xiririca á Eldorado com a precursora da literatura no Vale do Ribeira, a “Musa Impassível”, tornou-se um certo pseudônimo de Francisca Júlia depois de sua morte. O incontestável legado da autora germinou um fluxo para poetas como seu próprio irmão Júlio César da Silva, o Poeta João Mendes ilustre no vale por suas atividades culturais e pela valorização do legado literário do vale e de Eldorado/Xiririca, também seu amigo e padrinho de seu casamento Vicente de Carvalho (Poeta e Jurista, fundador da Compania de Navegação Fluvial Sul Paulista de barco á vapor que influenciou o comerciante Manoel Batista de Carvalho á fundar a legendária Companhia Xiririquense de Barco á vapor e pioneira no Vale do Ribeira).
- Sobre nossa jóia Xiririquense Francisca Júlia:
Desde a infância, Francisca Júlia já demonstrava pendor para a poesia. O ambiente familiar a isso contribuía: o pai, Miguel Luso da Silva, era advogado provisionado, amigo particular dos livros; a mãe, Cecília Isabel da Silva, professora na escola de Xiririca (hoje Eldorado, no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo). Foi nessa aprazível cidade às margens do rio Ribeira de Iguape que, em 31 de agosto de 1871, nasceu Francisca Júlia da Silva. O ano de seu nascimento é um tanto contraditório: 1874 para uns, 1875 para outros. De acordo com o irmão de Francisca, o também escritor Júlio César da Silva (1872-1936), a quem se deve dar crédito, o ano correto é mesmo 1871.
Ainda criança, a sua família se transferiu para São Paulo. Já moça feita, Francisca Júlia logo passou a colaborar com os jornais mais importantes da época. Sua estreia deu-se no jornal “O Estado de S. Paulo”, onde publicou os primeiros sonetos. A partir de então, começou a colaborar assiduamente para o “Correio Paulistano” e “Diário Popular”. Colaborou também para jornais do Rio de Janeiro, com destaque para as revistas “O Álbum”, de Arthur Azevedo, e, especialmente, “A Semana”, de Valentim Magalhães.
Quando descobriram que era mesmo uma mulher, passaram a apoiá-la. Vale lembrar que na época ela tinha apenas 24 anos. Olavo Bilac, por exemplo, louvou-lhe o culto da forma, a língua remoçada, sua arte calma e consoladora. A consagração da poetisa se refletiu nas inúmeras revistas que começaram a estampar-lhe o retrato.
A ESTREIA LITERÁRIA DE FRANCISCA JÚLIA
https://www.estantevirtual.com.br/livros/francisca-julia-da-silva (Link para compra do livro físico “Mármores”, “Poesias”, “Esfinges” “Versos áureos” e “Alma Infantil”).
Em 1895, aparece o seu primeiro livro, “Mármores”, reunindo sonetos publicados na “A Semana” de 1893 até aquele ano, edição custeada pelo editor Horácio Belfort Sabino. Prefaciado por João Ribeiro (1860-1934), conceituado crítico literário da época, o livro causou sensação nas rodas culturais de São Paulo e Rio de Janeiro. Olavo Bilac, numa crônica emocionada, destacou: “Em Francisca Júlia surpreendeu-me o respeito da língua portuguesa, – não que ela transporte para a sua estrofe brasileira a dura construção clássica: mas a língua doce de Camões, trabalhada pela pena dessa meridional, – que traz para a arte escrita todas as suas delicadezas de mulher, toda a sua faceirice de moça, nada perde da sua pureza fidalga de linhas. O português de Francisca Júlia é o mesmo antigo português, remoçado por um banho maravilhoso de novidade e frescura.
O escritor e jornalista Iguapense Roberto Fortes afirma que a cada nova pesquisa sempre surgem novas "descobertas", ou redescobertas, sobre Francisca Júlia. Como exemplo o autor informa que no final da vida, ela sofreu de problemas nervosos. Também era bem mística. "Alguns supõem que ela tenha tido problemas com alcoolismo, que teria sido agravado após a doença do esposo", comenta.
Após lançar, em 1899, o Livro da infância (Primeiro livro voltado ao público infantil lançado nacionalmente), para a rede de escolas públicas de São Paulo, a poetisa se tornou precursora da literatura infantil no Brasil, como informa o pesquisador Roberto Fortes.
Nessa época, Francisca Júlia foi convidada (e gentilmente recusou por não poder ingressar juntamente do irmão Júlio César da Silva) a fazer parte da Academia Paulista de Letras, então em vias de ser fundada. A partir desse ano, decide deixar a poesia de lado e se dedicar apenas ao esposo e ao lar.
Alguns anos mais tarde, outra vez em colaboração com o irmão Júlio César, produz o seu último trabalho literário, “Alma Infantil”, editado em 1912 pela Livraria Magalhães.
O Marido telegrafista da Estrada de Ferro Central do Brasil, Filadelfo Edmundo Munster, que foi diagnosticado com tuberculose em 1916 e veio a falecer em 1920. Poucas horas após o seu falecimento, Francisca Júlia foi encontrada morta no quarto do marido, supostamente depois de supostamente ter ingerido grande quantidade de narcóticos. Antes, ela havia declarado a amigos que a vida não teria sentido sem a companhia do marido e deixou claro que "jamais poria o véu de viúva". Ela tinha 49 anos. A morte ocorreu em São Paulo, no dia 1º de novembro de 1920.
(Escultura da “Musa impassível na Pinacoteca da Luz em São Paulo”)
Solicitaram ao então governador do Estado de São Paulo, Washington Luís, que fosse feita uma homenagem à artista. Foi então contatado um jovem escultor brasileiro que estudava em Paris, Victor Brecheret, que realizou o trabalho de 1921 a 1923 em Paris. "O resultado foi uma escultura envolvida por sensualidade. Olhos fechados que remetem a querer esquecer a dor da morte. Seios grandes e fartos para afirmar a importância da mulher na sociedade. Dedos e braços longos e delicados simbolizando a força e a superioridade de uma mulher que abriu segmento na literatura feminina. Nascia a “Musa impassível” (Soneto carro-chefe de sua carreira literária).
Na Pinacoteca da Luz, uma escultura em granito carrara, de quase três metros de altura e com um peso de três toneladas, intitulada Musa impassível, obra de Victor Brecheret, que também ganhou nome de rua: uma importante via no alto do bairro de Santana, em São Paulo, onde curiosamente outros autores simbolistas foram homenageados. Quem passa por ali pode observar pelos cruzamentos: rua Francisca Júlia x rua Alphonsus de Guimaraens, e rua Francisca Júlia x rua Paulo Gonçalves
Bibliografia em torno da poetisa:
Musa impassível: a poetisa Francisca Júlia no cinzel de Victor Brecheret
Livro de Márcia Camargos
A publicação do presente livro destina-se a registrar um fato aparentemente inusitado, ocorrido em dezembro de 2006: a transferência de uma escultura com mais de 03 toneladas de mármore, que se encontrava no túmulo da poetisa Francisca Júlia, no Cemitério do Araçá para a Pinacoteca do Estado.
Musa Impassível, download grátis
- Redição digital da obra "Mármores" 2020, da poetisa, está disponível gratuitamente no site da Biblioteca do Senado:
Filmografia em torno da poetisa:
- “A Musa Impassível” sobre um casal que á partir de seus dilemas tem uma conectividade diante da escultura “A musa impassível”.
Adrine (Simone Spoladore) trabalha como bilheteira no metrô e sofre de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o que faz com que leve a vida de forma metódica e sempre repetindo o modo de agir. Ela é casada com Adílson (Milhem Cortaz), um homem abrutalhado que não suporta que a esposa o toque. Um dia ela conhece Edivaldo (Tay Lopez), um atendente de lanchonete que, por ter a capacidade de permanecer imóvel por horas, decide quebrar o recorde mundial de estátua viva para chamar a atenção de sua ex-noiva. Logo Adrine e Edivaldo aprendem a lidar com as particularidades um do outro e se tornam amigos á partir do amor em comtenplar esculturas como “A Musa impassível”, retrato de Francisca Júlia em poesia e espírito de “Victor Brecheret”.
Trailer do filme
- Projeto realizado com o apoio do governo do Estado de São Paulo: Secretaria de estado da Cultura – Programa de Ação Cultural 2009
Apoio: TV Cultura, PROAC e Governo do Estado de São Paulo
Poeta Xiririquense: Júlio César da Silva (O irmão e herdeiro artístico de Francisca Júlia).
Veio ainda menino residir na capital paulista juntamente com sua irmã, Francisca Júlia, que mais tarde viria a ser tornar a maior poetisa do parnasianismo brasileiro.
Ainda cursando a Faculdade de Direito publicou o seu primeiro livro de poesias, Estalactites, livro de cunho parnasiano, escrito entre 1891 e 1892. Veio a público no ano seguinte, em 1893. Nessa mesma época sua irmã Francisca Júlia da Silva estreava no periódico A Semana, de Valentim Magalhães, no Rio de Janeiro (por intermédio da fama conquistada no Correio Paulistano) e, devido à perfeição dos versos, muitos acreditavam que se tratava de Raimundo Correia usando um pseudônimo de mulher. Foi Júlio César que, mediante carta enviada a Max Fleuiss, esclareceu o mal entendido.
Em 1895 publica "Sarcasmos", seu 2º livro de poesias, dessa vez sustentando o cunho simbolista pela qual o poeta penderia mais tarde após dedicar-se, quase que com exclusividade, aos preceitos parnasianos. Os jornais e revistas do tempo falam sempre dele, trazem-lhe o retrato e a caricatura, e por essa época - companheiro de Wenceslau de Queiroz, Carvalho Aranha, Jacques D'Avray - foi "simbolista no verso e no vestuário", disse dele Adolfo Araújo, foi "frade no mosteiro de Verlaine", apesar de ter escrito antes versos parnasianos.
Teve uma mocidade bastante aventurosa. Depois de ter tentado a vida eclesiástica, largou tudo para trabalhar num circo onde, como atleta e acrobata, viajou por todo o Brasil, andou por Buenos Aires e Montevidéu. Foi elemento de destaque nas rodas literárias e na boêmia que marcou a vida intelectual da Paulicéia, nos últimos anos do século XIX. Passados os alegres anos da juventude, fixou-se afinal como Funcionário da Prefeitura de São Paulo. Nessa época conheceu Monteiro Lobato, de quem se tornou amigo íntimo.
Contribuiu como crítico literário para a editora de Monteiro Lobato, que publicou, em 1921, Arte de Amar, livro composto durante uma enfermidade do poeta após a morte de sua irmã. Foi escrito em pouco menos de um mês, na versão com que foi pela primeira vez publicado, e é o que o nome indica, um preceituário amoroso, segundo o precedente ovidiano. Ao contrário do esperado, o livro alcançou grande popularidade e caiu no gosto do público a ponto de, em questão de meses, esgotarem-se todas as edições
Desde então a obra tem tido várias edições: ainda em 1961 foi dada a público pela Companhia Editora Nacional (sem especificação ordinal). Atualmente inclui, além desse livro, poesias extraídas dos livros anteriores e a Morte de Pierrot.
Júlio César faleceu em São Paulo capital no dia 15 de julho de 1936, aos 63 anos de idade.
- Obras de Júlio César da Silva:
“Arte de Amar”, considerada a sua obra-prima, viria à estampa em 1921, escrita em apenas 28 dias, de março a abril desse ano, publicada por Monteiro Lobato & Cia. Nesse período, Júlio César achava-se em convalescença devido a uma enfermidade, que o afastou durante um mês das lides jornalísticas, fato que nunca ocorrera nos seus trinta anos de imprensa.
O livro mereceu elogiosos aplausos dos principais escritores e críticos da época. Teve três outras edições, em 1924 (ampliada) e 1928 (resumida) pela mesma editora de Monteiro Lobato, e, em 1961, pela Companhia Editora Nacional, que republicou na íntegra a edição de 1924.
Martins Fontes (1884-1937), renomado poeta santista, expressou-se com as seguintes palavras quando do lançamento desse livro: “O sábio sutil da ´Arte de Amar´ é um grande poeta, um artista maravilhoso.”
- O grandioso e saudoso poeta João Mendes:
João Mendes discursando na inauguração do busto de Francisca Júlia em Eldorado, em 31-8-1973. Ao centro, de terno cinza, o prof. Sólon Borges dos Reis.
João Mendes cursou até o quarto ano primário no Grupo Escolar de Xiririca, sendo um autodidata. Aos 19 anos, ingressou na agência dos Correios e Telégrafos da cidade, onde trabalhou por alguns anos, até que foi convidado para trabalhar no Cartório do Registro Civil de Eldorado, do qual era escrivão o conhecido poeta eldoradense Domingos Bauer Leite (pai da ex-prefeita de Miracatu, professora Dea Viana Leite Moreira da Silva, e avô do deputado federal Samuel Moreira). Depois que Bauer se aposentou, João Mendes assumiu a titularidade do Cartório, no qual veio a se aposentar em 1986, após quatro décadas dedicadas ao Registro Civil, onde também acumulou as funções de distribuidor, contador, partidor, avaliador e depositário público do Juízo de Direito da Comarca de Eldorado.
João Albano Mendes da Silva, mais conhecido pelo pseudônimo de “J. Mendes”, foi um dos mais importantes vultos das letras e da inteligência valerribeirense em todos os tempos Nascido em Sete Barras no dia 26 de setembro de 1918, era filho único do casal de lavradores Tibúrcio Sebastião da Silva e Maria Eugênia de França. Sua família veio para Eldorado (que então se chamava Xiririca) quando João Mendes tinha apenas três meses de idade, estabelecendo-se num sítio localizado no município.
Por influência do poeta Domingos Bauer Leite, João Mendes teve despertada a sua vocação para a literatura. A partir de 1940, começou a publicar as suas crônicas e poesias nos jornais da região, atividade que manteve ininterruptamente por mais de cinquenta anos. Toda a sua produção literária foi cuidadosamente arquivada em dezenas de pastas, que hoje estão sob a guarda de sua viúva. É um valiosíssimo arquivo que, além de poesias e textos literários, também retrata o cotidiano do Vale do Ribeira e a sua história. 11 de fevereiro de 1950, João Mendes se casou com Maria Helga Ferreira Mendes (mais conhecida por “Dona Nenê”), filha de João Vitorino Ferreira e Dulce Maria de Azevedo Ferreira. De tradicional família eldoradense, dona Maria Helga é irmã de Maria Ursulina Ferreira Carneiro, que foi casada com o ex-prefeito de Eldorado, José Edgar Carneiro.
ACADEMIA ELDORADENSE DE LETRAS
Para homenagear Francisca Júlia (1871-1920), a grande poetisa brasileira nascida em Eldorado, o Centro do Professorado Paulista (CPP) doou à cidade um busto em bronze da poetisa. A cerimônia de inauguração deu-se na tarde do dia 31 de agosto de 1973, na Praça de Nossa Senhora da Guia. O busto foi solenemente entregue à cidade pelo professor Sólon Borges dos Reis (1917-2006),
presidente do CPP, ilustre educador, escritor e deputado paulista. João Mendes discursou agradecendo em nome do povo de Eldorado. Um dos idealizadores dessa homenagem foi o prof. Reinaldo de Maria Freitas e Silva (Reizinho).
Em agosto de 1976, João Mendes, com o apoio de amigos ligados à Cultura, realizava a I Festa da Cultura de Eldorado, como parte da “Semana de Francisca Júlia”. Esse evento teve várias edições até o final da década de 1980. Poetas e escritores de todo o Brasil vinham a Eldorado para abrilhantar essa grande festa da cultura regional.
Em 27 de agosto de 1977, era empossada a diretoria da “Casa de Francisca Júlia”, que seria o embrião e a mantenedora da Academia Eldoradense de Letras (AEL). Como presidente, foi escolhido João Mendes, tendo como vice Edson José Gomes; secretária: proessora Neusa Brandão Nogueira; tesoureira: professora Maria Santana L. Pereira; coordenadores: Terezinha Benedita Ferreira e professora Maria das Graças Freitas Braga; relações públicas: professor Milton Benedito Ribeiro, professor Aparício do Carmo Gomes Filho e poeta Benedito Passos Ferreira.
CIDADÃO ELDORADENSE
João Mendes era um homem reservado, introspectivo, não apreciando aparições públicas. No entanto, era um excelente orador, sendo frequentemente convidado para discursar em solenidades cívicas e culturais realizadas na cidade e região. O seu passatempo predileto, além da atividade literária, era a pescaria. Sempre que podia, ele pescava no rio Ribeira, na altura do sítio “Bananal Grande”, de sua propriedade.
Em reconhecimento por seu intenso trabalho cultural ao longo de toda a vida, João Mendes recebeu o título de “Cidadão Eldoradense”, através do Decreto nº 2, de 29 de agosto de 1985, de autoria do vereador Rubens Mariano.
O poeta faleceu, aos 78 anos, no dia 25 de maio de 1997, quando já era uma lenda viva no cenário literário e intelectual do Vale do Ribeira. Deixou mais de três mil poesias, muitas das quais inéditas, que estão à espera de serem reunidas em livros.
Extraído dos textos do Jornalista Iguapense Roberto Fortes. ao sete "Vale do Ribeira" de Camilo Aparecido
Marcelo Rubens Paiva (Neto do Prefeito Dr. Jayme Almeida Paiva).
Marcelo é filho de Rubens Paiva, ex-deputado torturado e morto durante a ditadura militar, e neto de Jaime Almeida Paiva, prefeito de Eldorado por duas vezes e que dá nome hoje á escola de Ensino Médio E.E. Dr. Jayme Almeida Paiva.
Recorte de "Feliz ano Velho" sua experiência autobiográfica best-seller que também conta sua passagem e de sua família durante a fazenda Caraitá em Eldorado:
"A cidade de Eldorado ficava a pouco mais de dois quilômetros de distância. Ás vezes animados, fazíamos o percurso á pé, pela estrada de terra, todos os primos cantando, para comprar sorvetes, um passeio pela praça central (N. S. da Guia), visitar amigos, comprar varas de pesca e quem sabe arriscar uma sessão única de cinema na cidade, que passava de Chaplin á Mazzaropi, meu primeiro ídolo e quem sabe arriscar uma sessão de cinema no único cine da cidade. Procissões em feriados religiosos, não perdíamos uma. (...) Nós os primos arriscávamos a nos misturar no campo, na pelada. Claro que tomávamos um baile, os meninos jogavam muito bem.
Os trabalhadores da Fazenda Caraitá resolveram montar um time próprio, que treinava num campo de um time ao lado de suas casinhas e tinham até uniforme. O clássico da região era contra o time de Eldorado, num campo gramado da entrada da cidade, cuja encosta também gramada servia de arquibancada. Caraitá era freguês de Eldorado, que era freguês de Jacupiranga".
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“Blecaute” é um livro do gênero romance apocalíptico do brasileiro Marcelo Rubens Paiva publicado pela primeira vez em 1986. Três jovens universitários, Martina, Mário e Rindu, fazem uma expedição à caverna do Diabo no Vale do Ribeira. Uma tempestade alaga as cavernas e os impede de sair por alguns dias. As águas baixam e eles finalmente conseguem sair. Ao chegar em São Paulo descobrem que todas as pessoas estão paralisadas, duras, como bonecos-de-cera, sem respiração e que são as únicas pessoas vivas da cidade. O livro mostra o comportamento dos três em meio às dúvidas, às dificuldades, à saudade e à necessidade de sobreviver.
Ganhou os prêmios Jabuti e Moinho Santista.
Feliz Ano Velho (1982)
Blecaute (1986)
Ua brari (1990)
O Homem que Conhecia as Mulheres (2006)
A Segunda Vez que Te Conheci (2008)
Marcelo Rubens Paiva - Crônicas para ler na escola (2011)
Ainda Estou Aqui (2015)
Meninos em Fúria (2016)
O Orangotango Marxista (2018)
O Homem Ridículo (2019)
(Domingos Bauer Leite á direita na foto).
DOMINGOS BAUER LEITE: DO ATEMPORAL HINO DE ELDORADO Á CONSAGRAÇÃO
“Mas eu quero morrer como morre uma tarde...”
Domingos Bauer Leite nasceu em Xiririca, hoje Eldorado, em 23 de dezembro de 1899 e faleceu em Miracatu, em 20 de Setembro de 1968, trabalhou como auxiliar de cartório em Xiririca, onde mais tarde tornou-se titular. Em 1941 mudou-se para Miracatu, então Prainha, onde exerceu a função até aposentar-se. Bauer leite foi figura marcante no cenário político e cultural do Vale do Ribeira, especificamente nos municípios de Xiririca (Eldorado) e posteriormente em Prainha (Miracatu).
Autor de um único livro, denominado “Oásis” que teve sua publicação em 1967, com prefácio do Professor Monsenhor Primo Vieira, lembrando que Monsenhor Primo Vieira foi um fundadores da Academia Santista de Letras (Casa de Martins Fontes) em 23 de junho de 1956, nela ocupando a cadeira 23, Bauer Leite ainda atuou como escritor na mídia regional em vários jornais deixando através deles vários textos que não foram publicados no livro Oásis.
Domingos Bauer leite se intitulava um autoditada, tinha a leitura como paixão e evidenciava uma característica marcante que era a fascinação pelo Vale do Ribeira, isso fica bem claro na apresentação feita pelo próprio na edição do livro “Oásis”, quando o poeta afirma-se” lírico, enamorado de minha região-Oásis sempre verde...” e outro trecho o poeta intitula-se um caipira, ”... “caipira do Vale do Ribeira é um título que não abro mão, considerando-o mesmo um complemento do meu próprio nome...” Tendo nascido em Xiririca, hoje Eldorado, e vivido lá grande parte de sua vida, isso me remeteu à primeira análise de que grande influência de sua poesia parta do berço dessa importante cidade, pois é muito fácil lembrar aos caros leitores que Xiririca foi terra de grandes poetas, a maior delas, incontestavelmente foi a própria, Francisca Julia da Silva.
Muitas evidências na obra do poeta Domingos Bauer Leite, nos levam a crer que ele sofreu grande influência do Parnasianismo, uma delas é a afinidade com os sonetos, remetendo-o a preferência formal, às rimas, às vezes ricas, outras não, mostrando uma preocupação estética dos versos.
Fica claro que o período de maior aproximação do poeta Domingos Bauer Leite com a escola Parnasiana estão nos textos datados de 1920 até aproximadamente 1932, saliento que o movimento literário Parnasianismo durou de 1870 até 1922, porém podemos teorizar a respeito do isolamento da região do Vale do Ribeira, dificultando rumores do movimento modernista que se opõe drasticamente ao Parnasianismo e culmina com a Semana de Arte Moderna em 1922.
Portanto chegamos novamente no ponto anterior onde afirmamos o peso da influência do parnasianismo na poesia de Domingos Bauer Leite, podemos a ir além e mais uma vez teorizar que o poeta foi influenciado diretamente pela poetisa Francisca Júlia. Vejam caros leitores, que semelhanças não são meras coincidências ,pois correntes Parnasianas e Simbolistas coexistiram e interagiram, sendo assim há nas obras Parnasianas traços e influências Simbolistas, e há em obras Simbolistas traços Parnasianos, e um dos grandes exemplos disso é Francisca Julia que em certo momento de suas poesias apresentou características simbolistas.
Quando nos deparamos com o poema “Oásis” de 1967, nota-se que o poeta Domingos Bauer Leite já está totalmente direcionado com seu lirismo para aspectos, características do Vale do Ribeira, Oásis sugere o seu local como um refúgio numa visão integrada da região.
No poema Cena Ribeirinha, o poeta descreva uma cena carregada de lirismo e bucolismo, que categoricamente remetem o eu lírico ao Vale do Ribeira, na cidade de Xiririca, berço do saudoso poeta, Domingos Bauer Leite já fala da diversidade étnica da região, em expressões que hoje remetem às culturas: Quilombolas, Caiçara, Caipiras e Ribeirinhos…
Percebe-se uma preocupação do poeta na situação em pautar num recurso onomástico certos nomes de peixes querendo levar à uma assimilação de lugar, de região, provavelmente conduzindo-nos ao rio Ribeira, rio que nasce em terras do Paraná e segue serpenteando a serra do Paranapiacaba, entrando em terras paulistas pelo alto Vale do Ribeira, passando por cidades como: Ribeira, Iporanga, Eldorado, Sete Barras, Registro, tendo sua foz na Barra do Ribeira em Iguape. A bacia do rio Ribeira de Iguape teve grande importância na formação econômica, cultural, ambiental do Vale do Ribeira.
(Extraído do “Oásis” biografia de Júlio Costa sobre Domingos Bauer Leite).
Leôncio Marques: Um contemplador nato das belezas de Eldorado/Xiririca
Leôncio Marques nasceu em Xiririca, no dia 28 de julho de 1898, onde passou toda sua vida, vindo a falecer em São Paulo no dia 07 de dezembro de 1973. Com apenas o quarto ano primário, foi agente postal, escrivão da coletoria estadual, juiz de paz, advogado, juiz de direito, promotor público, vereador e prefeito, além de comerciante e escritor. A publicação de sua obra literária teve por objetivo amenizar as saudades dos seus filhos, netos, bisnetos e amigos e, ao mesmo tempo, mostrar àqueles que a lerem, que escrever é uma arte para poucos e que, além de profundo admirador da literatura, também era um escritor de grande valia.
“Domingos Bauer, meu distinto conterrâneo, autor do poema “Jogos de Ganhar”, celebrizado por Afonso Schimidt no Correio Paulistano, autor ainda, além do mais, dos estupendos sonetos “Edu”, “Pedras da Rua” e “No Xadrez”, amado orador e exímio jornalista, é também e sem favor, grande, muito grande!... Ribeira e Domingos Bauer têm algo de irmão gêmeos, qualquer coisa de um completando o outro. Desta forma, enfiei-me num verdadeiro dilema quanto ao de início por mim prometido. Penso que os dois vieram ao mundo como vieram Castália e Callíope, para brindar aos Ribeiranos e circunvizinhança o esplendor do Belo, da poesia em sua força, beleza e valor. Que a bucólica Xiririca, despeitada ou ingratamente espezinhada por muitos, é o ninho mesmo da difícil arte de Guilherme de Almeida, Paulino de Almeida e outros de suas entranhas, surgiram os pranteados Francisca Júlia, Júlio César e Benjamim Constante Neto, destacados poetas por excelência e escritores, além dos ainda vivos em não pequeno número. Temos prazer e a natural vaidade de dizer que a terra do Cantor Inspirado é o Hélicon da baixada paulista, onde ele, Bauer, pontificou, encarnando perfeitamente aquela que se revestiu da progenitude das sereias.”
Na política, Leôncio filiou-se, inicialmente, ao P.R.P.- Partido Republicano Paulista, presidido, em Xiririca, pelo Coronel da Guarda Nacional, Antônio Avelino da Cunha. Orgulhava-se de ter votado, em todas as eleições, desde a década de 1 920, até a de 15 de novembro de 1 972, a última, antes de sua morte. Uma das mais significativas para ele, dizia, foi a de 11 de julho de 1 933, na qual o povo elegeu os deputados constituintes que elaboraram e promulgaram, em 16 de julho de 1 934, a nova Constituição do Brasil, como consequência da luta dos paulistas, na Revolução de 1 932. Infelizmente, ela durou, apenas, 3 anos, pois, foi extinta pelo golpe militar de Getúlio Vargas, m 10 de novembro de 1 937, com a criação do Estado Novo e a implantação da ditadura. Em 1 931, Leôncio foi nomeado prefeito de Xiririca, por 3 meses, em substituição ao Coronel Alcides Mariano Pereira.
Adoentado, Leôncio foi internado, por mais de um mês, no Hospital do Servidor Público o Estado, onde, não resistindo à enfermidade, faleceu, no dia 7 de dezembro de 1 973, às 16 horas, como causa uma septicemia e broncopneumonia.
Quando, por ocasião do sepultamento da esposa, em 21 de dezembro de 1 972, tocando com as mãos a sepultura, vaticinou: “Minha velha, daqui a um ano, estaremos juntos, novamente.” Quase acertou; diferença de apenas 14 dias.
(Extraído do livro “Recontando”, poemas e contos de Leôncio Marques Freitas, homenagem de seu neto também escritor Lélis Ribeiro e família).
Lélis Ribeiro (Neto de Leôncio Marques Freitas).
“A gente brincava muito com isso, com a natureza mesmo. A gente brincava... Uma das coisas que a gente mais gostava de fazer, eu e meus colegas, era atravessar a ponte e ir pra outra margem do rio, a margem esquerda, pra cortar frutas no mato. Então tem uma fruta bem específica daqui, que é a brejaúva, que é um coqueiro, na verdade, da família dos coqueiros, mas ela tem as folhas com muito espinho, a folha e o caule dela, e é um espinho muito dolorido quando fura a gente. E ela dá um cacho grande cheio de coquinhos e aí tem que quebrar isso depois na quebra, pra comer a castanha que tem dentro dele. Isso era uma coisa que a gente fazia bastante. E sempre tinha um risco de cair a folha com espinho em cima da gente, então era uma coisa arriscada. Mas a gente saía, estudava de manhã e aí de tarde, duas horas da tarde, a gente saía pra fazer essas coisas e voltava só anoitecendo. E os pais não ficavam preocupados, porque sabiam que a gente tava fazendo coisas sadias, seguras, apesar de tudo. Uma outra coisa muito legal que a gente gostava de fazer era pegar camarão. A gente tinha uma peneira dessas que o pedreiro usa pra peneirar a areia”
Sobre a infância do autor:
Nasceu dia 4 de novembro de 1979 em Eldorado. Entre os amores que podemos se apaixonar em Eldorado, de todas sua belezas, talvez a que mais chame atenção no Vale do Ribeira é a natureza. A proximidade de suas cidades com a mata, com os rios é muito grande. Quem nasce lá, como o professor de biologia Lélis, tem recordações muito vivas dessas brincadeiras de mato, da saudade da roça que se tem quando está numa cidade grande – como foi o caso dele quando fez faculdade em Curitiba -, ou quando se presencia uma grande enchente, como a do rio Ribeira no ano de 1997. Todas essas histórias e vivências se confundem com a história pessoal de Lélis, e nos conta um pouco de onde nasce o seu contato forte e frutífero com a natureza.
(...)
“O Ribeira: Um rio em Nós” valora muito o nosso imponente Ribeira, traz um recorte de inúmeros autores e trechos de suas obras sobre a importância, a visão subjetiva e a vivência com o Rio Ribeira. Nela temos poemas do próprio Lélis Ribeiro, como também de Domingos Bauer Leite, José Ribeiro de Freitas, Ana Nilse Mussi, entre várias outras figuras de prestígio e muito talento que compõe o legado de Eldorado/Xiririca.